Microagressões Raciais na Vida Cotidiana
Por: Derald Wing Sue, Ph.D., e David Rivera, M.S. Não muito tempo atrás, eu (americano asiático) embarquei em um pequeno avião com um colega afro-americano, nas primeiras horas da manhã. Como havia poucos passageiros, a aeromoça nos disse para sentar em qualquer lugar, por isso, escolhemos lugares perto da frente do avião e separados pelo corredor um do outro. No último minuto, três homens brancos entraram no avião e se sentaram em frente de nós. Pouco antes da decolagem, a comissária de bordo, que é branca, perguntou se não me importaria de passar para a parte de trás da aeronave para melhor equilibrar o peso do avião. Nós obedecemos a contragosto, mas nos sentimos destacados como passageiros de cor em sermos ditos para "ir para o fundo do ônibus." Quando expressamos estes sentimentos para a comissária, ela indignadamente negou a acusação, se tornou defensiva, declarou que sua intenção era garantir a segurança do voo, e queria nos dar alguma privacidade. Já que entramos no avião primeiro, eu perguntei por que ela não pediu os homens brancos para saírem ao invés de nós. Ela ficou indignada, afirmou que tinha entendido mal suas intenções, alegou que não olhava para a "cor", sugeriu que estávamos sendo "sensíveis demais", e se recusou a falar mais sobre o assunto. Estávamos sendo excessivamente sensíveis, ou a aeromoça foi racista? Essa é uma pergunta com a qual as pessoas de cor são constantemente confrontadas com em suas interações diárias com pessoas brancas bem-intencionadas que vêem a si mesmas como seres humanos bons, morais e decentes. A EXPERIÊNCIA COMUM DAS MICROAGRESSÕES RACIAIS Tais incidentes tornaram-se uma experiência de lugar-comum para muitas pessoas de cor, porque eles parecem ocorrer constantemente em nossas vidas diárias. · Quando um casal branco (homem e mulher) passa um homem negro na calçada, a mulher agarra automaticamente a bolsa com mais força, enquanto o Homem Branco verifica sua carteira no bolso de trás. (Mensagem oculta: os negros são propensos ao crime e até não é bom.) · Americanos asiáticos de terceira geração são elogiados por um motorista de táxi por falar tão bem Inglês. (Mensagem oculta: os americanos asiáticos são percebidos como estrangeiros perpétuos em seu próprio país e não "verdadeiros americanos".) · A polícia parar um motorista do sexo masculino Latino, sem motivo aparente exceto para checar sutilmente sua carteira de motorista para determinar o status de imigração. (Mensagem escondida: Latinas / os são estrangeiros ilegais.) · Estudantes indígenas americanos da Universidade de Illinois veem símbolos e mascotes dos nativos americanos - exemplificado pelo Chefe Illiniwek dançando e gritando ferozmente durante os jogos de futebol. (Mensagem oculta: os índios americanos são selvagens, sedentos por sangue e sua cultura e tradições são diminuídas.) Em nossa pesquisa de oito anos no Teachers College, Universidade de Columbia, descobrimos que essas microaggressões raciais pode na superfície parecer um elogio ou parecer muito inocente e inofensiva, mas, no entanto, eles contêm o que chamamos de meta-comunicação humilhante ou mensagens ocultas. O QUE SÃO MICROAGRESSÕES RACIAIS? O termo microaggressões raciais, foi cunhado pelo psiquiatra Chester Pierce, MD, na década de 1970. Mas o conceito também tem suas raízes na obra de Jack Dovidio, Ph.D. (Yale University) e Samuel Gaertner, Ph.D. (University of Delaware) em sua formulação do racismo aversivo - muitos brancos bem intencionados acreditar conscientemente e de professar a igualdade, mas, inconscientemente, agir de forma racista, particularmente em situações ambíguas. Microagressões raciais são os deslizes breves e cotidianos, insultos, humilhações e mensagens humilhantes enviadas para as pessoas de cor por pessoas brancas bem-intencionadas que desconhecem as mensagens ocultas que estão sendo comunicadas. Estas mensagens podem ser enviadas verbalmente ("Você fala Inglês bem."), Não-verbal (agarrar a bolsa com mais força) ou ambientalmente (símbolos como a bandeira confederada ou usar mascotes dos índios americanos). Estas comunicações são geralmente fora do nível de consciência dos autores. No caso de a aeromoça, eu tenho certeza que ela acreditava que estava agindo com a melhor das intenções e provavelmente se sentiu horrorizada que alguém a acusasse de um ato tão horrendo. Nossa pesquisa e os de muitos psicólogos sociais sugerem que a maioria das pessoas como a aeromoça abrigam preconceitos inconscientes e preconceitos que “vazam” em muitas situações interpessoais e decisões. Em outras palavras, a comissária estava agindo com preconceito, ela só não sabia disso. Convencer os autores a perceber que eles estão agindo de forma tendenciosa é uma tarefa monumental, porque (a) em um nível consciente, eles se vêem como indivíduos justas que nunca discriminariam conscientemente, (b) não estão genuinamente conscientes de seus preconceitos, e (c) a sua auto-imagem de ser "um ser humano bom e moral" é atacada, se perceber e reconhecer que eles possuem pensamentos, atitudes e sentimentos preconceituosos que prejudicam as pessoas de cor. Para entender melhor o tipo e alcance desses incidentes, a minha equipe de pesquisa e outros pesquisadores estão explorando a manifestação, dinâmica e impacto das microagressões. Começamos documentando como afro-americanos, americanos asiáticos, índios americanos e americanos latinos, que recebem esses golpes e flechas psicológicas diárias experimentam uma erosão da sua saúde mental, do seu rendimento profissional, da aprendizagem em sala de aula, da qualidade da experiência social e, finalmente, do seu padrão de vida. CLASSIFICANDO AS MICROAGRESSÕES Em meu livro, Racial Microaggressions in Everyday Life: Race, Gender and Sexual Orientation (John Wiley & Sons, 2010), eu sumarizei pesquisas realizadas no Teachers College, Universidade de Columbia, que nos levou a propor uma classificação das microagressões raciais. Foram descritos três tipos de transgressões raciais atuais: • Microassaultos: ações discriminatórias conscientes e intencionais: usando epítetos raciais, exibindo símbolos da supremacia branca - suásticas, ou prevenir um filho ou filha de namorar fora da sua raça. • Microinsultos: comunicação verbal, não-verbal, e ambiental que sutilmente transmite grosseria e insensibilidade que rebaixam o patrimônio ou a identidade racial de uma pessoa. Um exemplo é um empregado que pergunta a um colega de trabalho de cor como ele/ela conseguiu seu trabalho, o que implica que ele / ela pode tê-lo conseguido através de um sistema de ação afirmativa ou cota. • Microinvalidações: Comunicações que sutilmente excluem, negam ou anular os pensamentos, sentimentos ou realidade experiencial de uma pessoa de cor. Por exemplo, as pessoas brancas muitas vezes perguntam aos latinos onde nasceram, transmitindo a mensagem de que eles são estrangeiros perpétuos em sua própria terra. Nossa pesquisa sugere que micro-insultos e micro-invalidações são potencialmente mais prejudiciais por causa de sua invisibilidade, o que coloca as pessoas de cor em um dilema psicológico: Embora as pessoas de cor possam se sentir ofendidos, eles muitas vezes ficam não sabem ao certo o porquê, e os autores não estão cientes de que algo tenha acontecido e não sabem que foram ofensivos. Para as pessoas de cor, eles estão presos em um dilema. Se eles questionam o autor do crime, como no caso da aeromoça, negações provavelmente seguirão. Na verdade, eles podem ser rotulados "excessivamente sensíveis" ou mesmo "paranoicos". Se optarem por não confrontar os perpetradores, a perturbação permanece e percola na psique da pessoa que toma uma enorme carga emocional. Em outras palavras, eles estão condenados se o fizerem e condenados se não o fizerem. Note-se que as negações pelos autores geralmente não são tentativas conscientes de enganar; eles sinceramente acreditam não ter feito nada de errado. Microagressões mantêm seu poder, porque são invisíveis, e, portanto, elas não permitem que os brancos sejam que suas ações e atitudes podem ser discriminatórias. Aí reside o dilema. A pessoa de cor fica a questionar o que realmente aconteceu. O resultado é confusão, raiva e uma geral drenagem de energia. Ironicamente, algumas pesquisas e depoimentos de pessoas de cor indicam que eles são mais capazes de lidar com atos abertos, conscientes e deliberados de racismo do que as formas inconscientes, sutis e menos óbvias. Isso porque não há nenhuma adivinhação envolvidas em formas evidentes de racismo. OS EFEITOS NOCIVOS Muitas microagressões raciais são tão sutis que nem vítima nem agressor podem inteiramente compreender o que está acontecendo. A invisibilidade das microagressões raciais pode ser mais prejudicial para as pessoas de cor do que os crimes de ódio ou os atos explícitos e deliberados de supremacistas brancos como a Klan e os Skinheads. Estudos apoiam o fato de que as pessoas de cor frequentemente experimentam microagressões, que é uma realidade contínua em suas interações do dia-a-dia com os amigos, vizinhos, colegas de trabalho, professores e empregadores em ambientes acadêmicos, sociais e públicos. Muitas vezes as fazem sentir-se excluídas, como cidadãos não confiáveis, de segunda classe, e anormais. As pessoas de cor, muitas vezes descrevem a terrível sensação de estarem sendo observadas com desconfiança nas lojas, que qualquer deslize que fizerem teria um impacto negativo para todas as pessoas de cor, que se sentiram pressionadas a representar o grupo de maneira positiva, e que se sentem presas em um estereótipo. O fardo da vigilância constante drena e mina as energias psicológicas e espirituais sucos das vítimas e contribui para a fadiga crônica e um sentimento de frustração e raiva racial. O espaço não me permite elaborar o impacto nocivo das microagressões raciais, mas eu resumo o que a literatura de pesquisa revela. Embora possam aparecer como ofensas insignificantes, ou de natureza banal e trivial, estudos revelam que microagressões raciais têm graves consequências prejudiciais para as pessoas de cor. Foi descoberto que elas: (a) atacam a saúde mental dos destinatários, (b) criam um clima hostil e invalidador no trabalho ou campus, (c) perpetuam a ameaça do estereótipo, (d) criam problemas de saúde física, (e) saturam a sociedade mais ampla com pistas que sinalizam a desvalorização das identidades de um grupo social (f) rebaixam a produtividade do trabalho e a capacidade de resolução de problemas, e (g) serem parcialmente responsável pela criação de desigualdades na educação, emprego e saúde. Texto original: http://www.psychologytoday.com/blog/microaggressions-in-everyday-life/201010/racial-microaggressions-in-everyday-life Recentemente, fui praticamente “obrigado” a entrar em discussões sobre raça. Não gosto de discutir racismo abertamente com pessoas que não entendem as dinâmicas de como o racismo opera na sociedade. Geralmente, a conversa com tais pessoas é infrutífera e gera tensões que seriam desnecessárias caso a pessoa compreendesse o que o racismo realmente é. É frustrante ter que explicar algo que para mim parece óbvio, mas tudo bem. Devo me lembrar que também cresci acreditando no mito da democracia racial brasileira – pois é, já estive do outro lado, é vergonhoso admitir. Isso porque no Brasil, o racismo é muito sutil e dizem para você que o problema não é racial (mas é). Você já deve ter ouvido expressões como “racismo cordial”, “racismo velado”, etc. O racismo declarado é incomum hoje em dia e fácil de combater. O racismo velado é um grande problema, porque o elemento racial fica sempre implícito. O perpetuador deste tipo de discriminação pode ter preconceitos tão enraizados que não percebe a força motivadora das suas ações.
Em primeiro lugar, não existem raças diferentes entre seres humanos. A raça humana é uma das espécies mais geneticamente homogêneas da Terra. O conceito de raças só foi inventado para justificar a opressão de pessoas de cor (apesar de focar na discriminação aos negros neste blog, o termo “pessoa de cor” serve para qualquer pessoa “não-branca”). Historicamente, os termos “raça” e “espécie” foram intercambiáveis. Afirmar que um ser humano é de outra espécie com base em elementos físicos forneceu a justificação moral para a escravidão e opressão destes povos. Foi afirmado que não tinham sentimentos e que eram incapazes de criar laços familiares. Por serem considerados como animais, não seria imoral explorá-los como se explora o gado nas fazendas. Contudo, apesar de não existir na realidade, o conceito de raça continua influenciando as nossas vidas. O ideal seria que o termo "raça" desaparecesse da nossa linguagem, mas infelizmente não vivemos ainda numa sociedade pós-racialista. Infelizmente, a nossa "raça" ainda importa. Assim, a raça pode ser vista como um construto social, cultural e ideológico, não um fator biológico. O racismo não é um ato isolado perpetuado por este ou aquele indivíduo. O racismo afeta todas as pessoas de cor simultaneamente o tempo inteiro. Não há descanso ou escape do racismo, nem só por um momento. Ele está sempre lá – noite ou dia, chuva ou sol. Não existe um lugar para onde possamos ir para estar livre dele – nem dentro de nossas casas – ou pior, nem dentro de nossas mentes se não nos educarmos conscientemente! Nos últimos 500 anos, não houve um momento sequer em que ele não estivesse presente. O preconceito racial é a crença de que uma raça é superior a outra ou a atribuição de comportamentos negativos a uma raça, mas esta crença não se manifesta de forma consciente na sociedade atual, ao contrário do que acontecia no passado quando a superioridade branca era fato científico. Atualmente, poucas serão as pessoas que admitirão para si mesmas que acham que o branco é superior ao negro. Contudo, esta crença se manifesta implicitamente em ações cotidianas que mostram preferência pelo branco. Um exemplo disso é a violência que o negro sofre. Alguns dirão que isto está relacionado exclusivamente a fatores socioeconômicos, mas o índice de homicídio de negros no Brasil não tem acompanhado o índice de crescimento econômico dos mesmos nos últimos anos. Pelo contrário, houve aumento de 9% dos homicídios de negros, embora tenha havido uma redução no índice de homicídio de brancos no mesmo período. A taxa de homicídio de negros é mais que o dobro da do branco. Quatro homens negros foram assassinados pela polícia americana "por engano" em menos de um mês. O fato causou mobilizações por toda a nação. O psicólogo Joshua Correll fez um teste para medir preconceitos raciais implícitos. Os participantes do teste teriam apenas alguns segundos para decidir se atirariam ou não nos personagens que apareceriam na tela. Se os personagens estivessem armados, eles deveriam atirar. O estudo revelou que as pessoas eram mais propensas a atirar em negros desarmados do que em brancos armados. Após as experiências negativas recentes, vejo mais claramente a necessidade de uma conversa aberta sobre o racismo. Não devemos ter medo de falar contra tudo aquilo que nos oprime. Não podemos nos calar. 10 Coisas que o Privilégio Branco Fez por Mim em 10 Dias
Por: Olivia Cole Algumas das coisas sobre as quais mais escrevo são o racismo, o sexismo, a misoginia, e a desigualdade na mídia e cultura pop americana, especialmente a sub-representação das mulheres de cor na supracitada. As razões são muitas e complicadas. Quase todas as minhas amigas mais próximas foram e continuam sendo mulheres negras e pardas, e eu fui ouvinte da sua dor e invalidação desde que era muito jovem. Eu fui para a Universidade de Columbia, Chicago, onde minhas amigas tiveram dificuldade em encontrar arte (literatura e filme) nas quais elas não fossem apenas representadas, mas representadas de forma diferenciada e profunda que fosse além do toquenismo. Como uma mulher branca, eu me sentia impotente, tentando educar pessoas brancas (família, colegas, Facebook) sobre o privilégio branco e as conseqüências da sub-representação, tanto para auto-estima das crianças de cor quanto para a perpetuação das ideologias supremacistas brancas. Eu sou uma escritora, então há algum tempo eu começar a blogar como meio de comunicar algumas dessas idéias, na esperança de usar meu privilégio branco para alcançar pessoas e mudar algumas mentes. Mas algo tem me perturbado ultimamente e não estava certa do que era, até a semana passada quando um blog que escrevi sobre o filme Lucy alcançou cerca de 230 mil pessoas e os emails começaram a transbordar. Nem todos eram “emails de ódio” (embora alguns certamente tenham sido): muitos foram de pessoas de cor escrevendo para dizer: “Que blog legal. Eu tenho dito isso há anos e ninguém ouve”. Foi então que entendi, e devia ter entendido muito antes, mas essa droga de privilégio branco pode lhe fazer de idiota às vezes: ao falar sobre estes assuntos e encontrar um público, estou exercitando o privilégio branco, e apesar de acreditar que escrever sobre a falta de representação das pessoas de cor em Hollywood e na mídia pode ter um efeito positivo, me ocorreu que eu passo muito tempo falando dos problemas do sistema branco-supremacista no qual vivemos, mas não tanto falando sobre os modos com os quais eu opero nesse sistema. Eu tento manter meu privilégio em cheque – nem sempre tenho êxito – mas desde a semana passada, eu estive ativamente monitorando minha vida diária e observando as formas com as quais esse privilégio me beneficiou quando se trata do blog e da escrita que eu faço. Então eis aqui, 10 maneiras em 10 dias. (Nota: há definitivamente mais do que 10, e eles se estendem para além da minha escrita. Vide a obra de Peggy McIntosh para uma lista melhor e mais extensa). 1. As pessoas leram meu blog sobre Lucy. Reafirmando isto às pessoas que não leram a introdução, eu escrevi um blog sobre estar cansada de ver rostos brancos na telona, dissecando o filme Lucy, e as pessoas (brancas) realmente o leram. Eu não disse nada de novo nesse blog que as pessoas de cor já não disseram mil vezes antes, desde antes de eu nascer. E não estou dizendo que pessoas brancas nunca leem obras de pessoas não-brancas. Mas os emails que eu recebi de pessoas brancas dizendo “Uau, você realmente abriu meus olhos!” é revelador. 2. Apesar de ter problema com a sub-representação de pessoas de cor, minha própria representação não é um problema. Apesar da minha raiva sobre Hollywood, a mídia e a ficção popular (inclusive ficção adulto-juvenil) apagar protagonistas negros e pardos, isso não significa que eu ainda não seja representada por toda parte. Eu descobri que tenho que me acautelar muito com isso, pois ser uma convidada numa comunidade não é a mesma coisa que ser parte daquela comunidade. O fato de escrever sobre sub-representação de pessoas de cor não significa que eu seja sub-representada: eu ligo a TV e vejo mulheres brancas com pele e cabelo iguais aos meus. Eu vou ao cinema e sou bombardeada com homens e mulheres que se parecem comigo, não relegadas a papeis de serviçais, escravas ou token. (Estou olhando para você Exôdo: Deuses e Reis, e, bem, quase todos os movies. Veja esse infográfico sobre a lacuna de diversidade em filmes de ficção científica e fantasia). 3. Algumas pessoas brancas acham que eu sou brava e legal. Tenho recebido emails de pessoas brancas dizendo que me admiram, etc. e que o que estou fazendo é importante. Apesar de apreciar estes emails, eu não posso deixar de me perguntar se elas estão enviando os mesmos emails a mulheres como @TheTrudz, @FeministaJones e @BlackGirlDanger, mulheres negras que diariamente fazem trabalhos mais importantes e recebem 100x mais emails de ódio. Elas são bravas e brilhantes. E tão, tão legais. 4. Pessoas brancas não me veem como pária. Sim, eu tenho recebido muitos emails desagradáveis e nem tenho me importado em ler os comentários dos últimos blogs que escrevi. (Desculpa, gente: amor próprio). Mas minha crítica a Hollywood (e às pessoas brancas) não me prejudica em grande escala, nem ninguém supõe que eu fale por toda a minha raça. Ninguém está lendo meus blogs e dizendo, “Ela só está enraivada porque ela é uma [inserir grupo marginalizada aqui]. É assim que eles todos pensam”. Eu recebo o benefício da validade porque sou branca. 5. Ninguém acha que sou egoísta. Quando pessoas de cor escrevem sobre seus problemas (em qualquer arena ou indústria) que afetam pessoas de cor, eles são rotulados de egoístas ou apenas interessados nas causas que os afetam, ao invés de serem vistos como provedores válidos de experiência vivida. Então, embora algumas pessoas que lêem meus blogs achem que eu sou uma idiota ou que estou perdendo de vista aspectos importantes de como o racismo opera – ambos dos quais podem ser verdade – isso geralmente não inclui a idéia de que só estou nisto por mim mesma. 6. Eu posso cometer erros gramaticais e de pontuação sem as pessoas atribuírem isto à minha raça. Hei, eu cometo erros de digitação. Todos nós cometemos. Mas quando as pessoas que estão lendo obras de pessoas de cor e buscando uma razão para desconsiderá-las, a pontuação e a gramática são geralmente atacadas como forma de enfraquecer seu argumento. Eu posso escrever “platypus” como “plattapus” e as pessoas dirão: “Ela não sabe escrever platypus. Ela é burra” e não “Ela não sabe escrever platypus. Ela é burra porque ela é [inserir grupo marginalizado aqui]”. 7. Eu posso responder raivosamente a comentários desagradáveis sem as pessoas atribuir isso à minha raça. Essa é uma extensão do nº 7 [sic] mas merece o seu próprio, porque é algo com que eu vejo mulheres de cor sofrerem muito, tanto na vida como na mídia online/social. Um troll deixa um comentário desagradável ou envia um tweet cruelmente racista, e a mulher em questão responde com algo mal-humorado, e o troll então dirá, “Veja, uma mulher negra enraivada. O que esperar?” Eu, por outro lado, posso responder com toda a desagradabilidade do mundo, e enquanto minha feminilidade provavelmente será atacada (“vadia”, “vagabunda”, etc.), minha raça não será. 8. As pessoas compram meu livro. Eu escrevi uma novela de ficção científica para minhas duas melhores amigas (Oi, Hope! Oi, Tasha!) e então a heroína é uma mulher de cor arrasando no apocalipse. As pessoas o estão comprando, empolgados com a idéia de uma personagem não branca neste cenário. Mas muitos deles nunca ouviram de falar de Octavia Butler. Muitos deles nunca ouviram falar de Nnedi Okorafor. Meu privilégio branco tornou a mim e meu trabalho visíveis e algumas pessoas pensam erroneamente que eu sou a primeira a fazer o que fiz. Eu não sou. Eu não sou. Não me entenda mal, eu quero que as pessoas comprem meu livro. Mas o que não posso deixar acontecer é o apagamento das mulheres de cor quem fizeram isso primeiro. (Note: isso não significa que eu vendi remotamente tantos livros quando Nnedi Okorafor e especialmente Octavia Butler. Mas quando estamos falando de tradições literárias, o fato de leitores brancos têm lido meu livro, mas não o deles é revelador e problemático). 9. A minha escrita não é limitada pelo mercado de contos de escravidão e servidão. Embora muito do meu assunto confronta questões de raça, meu privilégio branco é uma bolha em torno de mim quando se trata de meu futuro em escrever e publicar. Muitos dos meus amigos autores e poetas expressaram frustração ao se aproximarem de agentes e editores com seus livros, apenas para ser ditos: "Bem, talvez se você centrasse a história em torno da escravidão ou do racismo." Minha escrita não é obrigada a se concentrar em aspectos da minha raça e experiência cultural, onde [sic] as pessoas de cor são freqüentemente convidadas a atuar como porta-voz ou historiador com o seu trabalho. Eu lancei uma série de fantasia adulto-juvenil, e tudo o que me foi dito foi "Legal". 10. Eu posso parar de escrever / pensar sobre o racismo e a minha vida não vai mudar muito. Uma das coisas sobre o privilégio branco é que ele é como um banho de vapor. Se você ficar cansado de lutar ou exausto de lutar contra as instituições racistas, você pode afundar-se no banho, relaxar e deixar o vapor ofuscar a sua visão. Eu posso sentar e assistir a um filme com um elenco caiado [“whitewashed”], desligar o meu cérebro, e desfrutar de imagens de mim mesma refletidas de volta para mim. Se eu parasse de pensar e escrever sobre o racismo, a minha vida não iria mudar, além de alguns e-mails a menos em minha caixa de entrada me chamando de "vadia traidora da raça", minha vida continuaria inalterada. Tal é o privilégio branco. A capacidade de não pensar, de não estar sempre ciente de sua raça - sua presença ou ausência. Este artigo em si é uma manifestação de privilégio branco. Vou publicá-la online e as pessoas provavelmente vão lê-lo, e esta lista vai começar toda de novo. Mas eu acho que eu preciso continuar a falar sobre essas coisas, porque escrever um blog sobre a brancura em Hollywood não é suficiente. Escrevendo 100 blogs sobre a brancura em Hollywood não é suficiente. Espero que desta vez que os e-mails que recebo de leitores brancos são mais do que "Você está certo, não há uma super-representação de pessoas brancas em Hollywood!" e se aventurar em "Você está certo, a nossa própria brancura trabalha de maneiras complexas." A mudança começa em casa, e o verdadeiro lugar em que vivo é no meu corpo. Original: http://www.huffingtonpost.com/olivia-cole/10-things-white-privilege_b_5658049.html “As pessoas sabem da [Ku Klux] Klan e sobre o racismo declarado, mas o assassinato da sua alma, dia após dia, é muito pior do que alguém chegar em sua casa e enforcá-lo”.
– Samuel L. Jackson “A condenação esmagadora deixa claro que temos feito enorme progresso em ensinar a todos que o racismo é ruim. Onde pisamos na bola... é em ensinar as pessoas o que o racismo realmente é... o que permite as pessoas a dizerem coisas incrivelmente racistas ao mesmo tempo em que insistem que nunca diriam”. – Jon Stewart “O problema é que os brancos veem o racismo como um ódio consciente, quando o racismo é muito maior que isso. O racismo é um sistema complexo de alavancas e polias políticas e sociais instituído há gerações para continuar trabalhando em favor dos brancos em detrimento às outras pessoas, quer os brancos saibam/gostem [(aprovem)] disso ou não. O racismo é uma doença cultural insidiosa. É tão insidiosa que não importa se você é uma pessoa branca que gosta de negros; ela ainda encontrará um modo de infectar o modo como você lida com as outras pessoas que não se parecem com você" “Sim, o racismo se parece com o ódio, mas o ódio é apenas uma manifestação. O privilégio é outra. Acesso é outra. Ignorância é outra. Apatia é outra e assim por diante. Portanto, apesar de concordar com quem diz que o ninguém nasce racista, ele [(o racismo)] continua um sistema poderoso no qual nascemos. É como nascer dentro do ar: você absorve ao respirar." “Não é um resfriado do qual se recupera. Não existe aula de certificação anti-racismo. Ele é um conjunto de armadilhas socioeconômicas e valores culturais que são acionados toda vez que interagimos com o mundo. É algo que você deve continuar tirando do barco da sua vida para não afundar”. – Scott Woods Obs.: É de nossa opinião pessoal no blog O Mouro de que a citação acima se aplica não apenas aos brancos, mas às pessoas de toda e qualquer cor e etnia (raça não existe). Somos todos afetados e contribuintes para a perpetuação do sistema da supremacia branca até nos apercebermos disso e começarmos a resisti-lo através de ações conscientes. “Você tem que reconhecer que é preconceituoso antes de poder mudar isto”. – Oprah Winfrey GRADA KILOMBA Escritora e Palestrante. Sua obra literária é uma combinação de escrita acadêmica e narrativa lírica, abordando Memória, Trauma, Racismo e Pós-colonialismo. Atualmente, é professora da Humboldt Universität - Berlim, departamento de Estudos de Gênero.
Pouco tempo atrás, se alguém me perguntasse se já sofri racismo, diria que não. Achava que o racismo só acontecia se alguém me xingasse ou me agredisse de alguma forma explícita. As raras pessoas que exibissem este tipo de comportamento eram as racistas. Como isso nunca me ocorreu na vida real (na internet, sim), achava que vivíamos numa utopia racial. Talvez nos EUA, houvesse real racismo, mas não no Brasil. Quanta ingenuidade!
Tudo isso mudou quando compreendi o que o racismo realmente é. "A praga do racismo é insidiosa, entrando em nossas mentes tão suave, quieta e invisivelmente como micróbios aéreos entram em nossos corpos" —Maya Angelou. A guerra contínua contra os povos de cor tem sido travada principalmente no campo psicológico. De fato, em uma palestra, a psiquiatra Dra. Francis Cres Welsing disse que todos os pacientes negros que ela já tratou tinham alguma problema relacionado ao racismo. Imagens negativas criam percepções distorcidas na mente das pessoas e isto se reflete em atitudes sutis, mas com sérias implicações. "Informações erradas sempre mostradas pela mídia, infectando as mentes jovens mais rápido que as bactérias" - Where Is The Love, The Black Eyed Peas. Imagem: "Todos merecem ser tratados igualitariamente! Não importa se você é negro, amarelo, pardo ou normal!" Em Brainwashed, Tom Burrell diz: "A imagem positiva branca e a negativa negra afetaram toda a nossa juventude. Quando criança, lembro de chegar em casa após assistir filmes com estrelas como Cary Grant, Clark Gable, Roy Rogers e Johnny 'Tarzan' Weissmuller. Eu ficava em frente ao espelho e tentava várias formas de 'esconder' meus lábios, na esperança de simular a aparência dos meus heróis". Contextualizando historicamente, o autor afirma: "Os negros, convencidos de que éramos realmente grotescos, logo assumiram controle do nosso próprio denegrimento... Por séculos, o estigma associado com a pele muito escura, narizes muito largos e cabelo muito crespo prejudicaram a autoestima negra e a habilidade de criar filhos negros que não se considerassem negros e feios... Quando as barreiras raciais mais formais e legais caíram, estilos de cabelo dados por Deus foram considerados 'não profissionais' o suficiente. Qualquer coisa remotamente próxima ao 'natural' - afros, tranças, dreads - que ofendiam aos brancos no local de trabalho se tornou tabu". Sobre as imagens negativas na mídia, Burrell diz: "A preponderância dessas imagens e mensagens envia um claro sinal aos negros, especialmente às crianças negras, de que não somos belos o suficiente, não somos bons o suficiente... Quanto mais longes do padrão europeu, mais baixo nos encontramos na escala da beleza". O racismo atual é largamente um fenômeno implícito. Por isso, eu achava que ele não existia - pois não podia vê-lo, e exemplos visíveis estavam - eu acreditava - fora da minha realidade. As pessoas - de qualquer cor - expostas a essas imagens, desenvolvem preconceitos. Vemos isto claramente com as crianças mais jovens: como ainda não foram constrangidas a inibir suas opiniões racistas, elas as expressam abertamente. À medida em que crescem, elas já não podem admitir seu racismo, enterrando-o, portanto, no subconsciente - mas as ideias negativas continuam lá e continuarão a ser reforçadas por toda a sua vida e a guiar suas ações; elas só já não estão mais conscientes disto. "De fato," diz o John Powell, diretor do Centro Haas de Diversidade e Inclusão, "a não ser que nos esforcemos intencionalmente para descobrir e nos tornarmos cientes do nosso próprio preconceito, é provável que ele apareça no momento mais inoportuno.... Quando há tensão entre ímpetos conscientes e subconscientes, o subconsciente geralmente prevalece". De acordo com Dr. Williams, professor de estudos africanos e afro-americanos em Harvard, "a pesquisa mostra que quando as pessoas têm um estereótipo negativo sobre um grupo e encontra alguém deste grupo, eles geralmente tratam aquela pessoa diferente e sinceramente não o percebem. Williams notou que a maioria dos americanos se oporia a ser rotulado de 'racista' ou até 'discriminatório'". De acordo com o Dr. Gail Christopher, "Séculos de hierarquia racial na América deixou uma marca em nossa sociedade, especialmente acerca de como as pessoas de cor são percebidas pelos brancos". Eu diria que não só pelos brancos, mas pela sociedade em geral. Christopher fala dentro de um contexto americano, mas a história dos negros no Brasil é muito semelhante (sem contar que consumimos a cultura norte-americana diariamente através da TV, internet e impressa). "É um processo embutido na consciência dos americanos e impactado por séculos de preconceito", conclui. "Negar que ter determinada aparência é um grande fator na sociedade é negar a realidade. O processo de reprogramação da inferioridade negra começa quando nos questionamos por que uma imagem é constantemente escolhida ao invés da outra", diz Burrell. "Não surpreendentemente, tendemos a ouvir falar mais sobre intolerância e preconceito quando vêm à tona explicitamente... Mas a verdade é que muito do preconceito - talvez a maior parte dele - floresce abaixo do nível do pensamento consciente. Isso significa, alarmantemente, que é inteiramente possível ter fortes crenças que apontam em uma direção enquanto demonstrar comportamentos que apontem em outra." Malcolm Gladwell desenvolveu um teste para expor preconceitos de cor implícitos. O teste, em inglês, pode ser realizado aqui. 70% das pessoas mostram diversos graus de preferência aos caucasianos; apenas 17% é neutra e 12% apresenta preferência por negros. Burrell diz que muitos não assumem uma aparência mais caracteristicamente negra (cabelos crespos, tranças, etc.) por medo de não aceitação (isolamento, perda de emprego ou promoção); outros por medo de transmitirem uma mensagem desnecessária de rebelião e identidade negra aos brancos; ainda outros por medo de serem assediados ou ostracizados por causa do cabelo. Contudo, "aceitar a definição do status quo das normas sociais serve para sancionar o condicionamento da superioridade branca. Alterar nossa aparência porque os brancos se sentem ameaçados valida as percepções racistas. Os brancos devem aprender que os negros com afros e tranças podem ser tão profissionais, educados e criativos como aqueles de cabelo curto ou alisado". Outro ponto importantíssimo é ressaltado por Burrell: "Se você é considerado bonito ou não depende largamente de como você vê a si mesmo. Se você se sente bonito, você agirá como uma pessoa bonita e será considerado assim". Referências http://www.theguardian.com/news/oliver-burkeman-s-blog/2013/aug/15/racist-sexist-you-are-more http://www.psychologytoday.com/blog/between-the-lines/201204/studies-unconscious-bias-racism-not-always-racists Saudações, leitores! Faz algum tempo que não publico nada devido à correria do dia-a-dia, mas hoje, depois de uma semana muito corrida, decidi dar folga a mim mesmo e comecei a leitura de um livro de Tom Burrell chamado "Brainwashed" (adjetivo usado para designar sujeito que sofreu lavagem cerebral). Infelizmente, o livro não possui versão traduzida. Ainda não posso dizer se o livro, no geral, é bom, pois só comecei a lê-lo há alguns minutos, mas já havia ouvido falar muito dele e estava ansioso para o ler. Portanto, gostaria de trazer uns trechos da introdução que já achei bastante interessantes. Os seguintes trechos foram uma tradução pessoal do texto original (grifos meus). "Somos fortes. Sobreviventes da Middle Passage, do chicote e das correntes. Sobrevivemos séculos de terror, humilhação, vilificação e privação. Somos espertos. Mesmo quando nossa alfabetização era ilegal, aprendemos rápido, inventamos, descobrimos, construímos, ensinamos e sobressaímos contra todas as probabilidades. Somos criativos. Criando um caminho onde não havia saída e constantemente gerando e regerando a arte e cultura americanas. Então, por que, depois de todo este tempo, quando calculando a conquista do 'Sonho Americano', somos ranqueados no final de quase todas as 'boas' listas e no topo das listas 'ruins'? Por que, apesar de nossa aparente força, inteligência e desenvoltura, continuamos a ficar para trás e definhar em tantos aspectos da vida americana? [...] 45 anos na indústria publicitária me deram visão pessoal e profissional ao poder da propaganda - positivo e negativo - e o uso de palavras e imagens para influenciar, mudar e até transformar as vidas das pessoas [...]. Todas as agências publicitárias empregam a criatividade - escrita, artes, fotografia e música - para capturar a tão dividida atenção do público. Contudo, a parte mais importante do que fazemos é estudar as pessoas: por que fazem o que fazem e por que compram o que compram. Mas, sendo um homem negro, fui compelido a compreender o modo como os negros são vistos neste país e como muitos de nós inconscientemente enxergamos a nós mesmos [...]. A pesquisa da Burrell Communications dos anos 1970 e 1980 mostrou que afro-americanos tem distintas necessidades, desejos, medos, esperanças e aspirações psicossociais, todas nascidas das circunstâncias que surgiram da nossa experiência como escravos na América. Descobrimos, por exemplo, que: • A preferência negra por marcas de status de alta qualidade era impulsionada pela necessidade de compensar por sentimentos de baixa auto-estima • Nossa tendência a uma assimetria na razão gastos/poupança nascia de uma necessidade por gratificação imediata, baseada num pessimismo arrepiante sobre um futuro incerto. • Nós 'sobrearmazenávamos', gastando quantidades desproporcionais em toda categoria de produto relacionado à higiene (de duchas femininas a sabão em pó perfumado a desodorantes de carro e desinfetantes domésticos), primariamente para compensar por sermos historicamente estereotipados como sujos [...]. Como um profissional de marketing que respeita e admira a propaganda quando brilhantemente concebida e habilmente executada, finalmente reconheci que uma das maiores campanhas de propaganda de todos os tempos foi a comercialização magistral do mito da inferioridade negra para justificar a escravidão dentro de uma democracia [...]. Pense nisso: a América tinha lutado com o dilema moral da escravidão desde que os primeiros africanos desembarcaram em Jamestown em 1619 . Os Fundadores encontraram-se em um grave encruzilhada moral. Eles precisavam desesperadamente de uma maneira de justificar a escancarada divisão entre sua retórica temente a Deus e amante da liberdade e a crescente dependência nacional do trabalho escravo barato. A solução: uma campanha de marketing eficaz, criada não só para encaixar a instituição da escravidão numa democracia nascente, mas destina-se a convencer tanto o senhor quanto o escravo que os negros sempre foram e sempre seria mentalmente, fisicamente, espiritualmente e culturalmente inferiores [...]. É como se as elites coloniais originais houvessem contratado uma agência de relações públicas para vender o conceito de que africanos eram intrinsecamente inferiores e que era realmente completamente justificável tratá-los como bestas sub-humanas [...]. Ainda hoje, temos contramedidas infelizmente inadequadas - nenhum mecanismo cultural permanente para desfazer o que uma campanha publicitária de 400 anos conseguiu. A nossa insistência de que nos libertamos da propaganda negativa é um pensamento fantasioso. É necessário muito mais do que grandes afros, punhos cerrados, e slogans dançantes para combater os séculos de exposição constante às imagens distorcidas e mensagens desumanizantes [...]. Enquanto eu estava escrevendo este livro, algo aconteceu que alguns de nós, em nossos sonhos mais loucos, jamais teríamos imaginados. Um homem negro se tornou presidente dos Estados Unidos da América. Alguns podem olhar para isso e dizer: 'Veja, os negros americanos venceram! Como Dr. King previu, nós, como um povo "chegamos à Terra Prometida"'. Nos dias atuais, a imagem é poder. Nunca antes o país tivera a imagem de um homem negro ocupar o mais alto cargo na terra, fornecer o discurso do Estado da União, elaborar e promover uma política nacional, ou desembarcar do Air Force One com sua esposa e filhas negras. A partir de uma perspectiva de marketing, isto é algo poderoso e transformador. No entanto, qualquer um que olha para além do brilho do momento vai entender que nem nós, nem a nossa situação, mudaremos do dia para a noite. Alguns de nós sempre conseguiram êxito, de alguma forma , apesar do fracasso do nosso sonho americano. Barack Obama, por meio de inteligência, vontade, auto-determinação, e, sim, uma não pequena confluência de circunstâncias favoráveis, pôde chegar à sua Terra Prometida, mas a maioria dos americanos negros ainda estão vagando no deserto. A campanha da inferioridade negra / superioridade branca se transformou exponencialmente na Nova Era da mídia [...] Eu experimentei a falta de auto-estima baseada na raça em primeira mão. Eu sei que não foi baseada exclusivamente na baixa renda ou na educação deficiente. Versátil como eu fora, aquela sensação de falta estava bem ali, subindo cada degrau da escada do sucesso do meu lado. Com o tempo, aprendi que a raiz do problema não era o que estava sendo feito a mim - e sim o que eu havia sido manipulado a sentir sobre mim mesmo." P.S.: O título do post advém da música "Redemption Song" de Bob Marley, qual é tanto um lamento quanto um chamado à mudança. Observação: o texto a seguir não é meu. Foi publicado pelo site americano Huffington Post, mas achei a mensagem de grande importância. Portanto, decidi traduzi-la e publicá-la aqui.
“Qual cor de pele você quer?” Essa pergunta foi feita a duas crianças de cerca de 4 ou 5 anos pelo correspondente da CNN Anderson Cooper. Enquanto ele apontava para imagens com tons de pele de branco a muito escuro, uma garota negra, vestida em cor-de-rosa, colocou o dedo na ilustração quase branca: “Por é mais clara”, ela disse a Cooper. Depois, olhando para sua própria mão e esfregando as articulações, ela disse: “Eu não gosto da aparência do marrom... parece meio nojento por alguma razão.” Uau. A primeira parte da série da CNN “Black or White: Kids on Race” foi ao ar em 17 de maio no “AC360º” de Cooper. A série explora as descobertas do estudo comissionado pela CNN sobre as crenças, atitudes e preferências raciais das crianças. Da boca de crianças, aprendemos que quase 60 anos após o marco “Brown v. Board of Education”, a maioria das crianças ainda favorece a pele clara ou branca e acreditam que os adultos partilham de seu sentimento. A consultora que a CNN contratou para o estudo, a psicóloga infantil e professora da Universidade de Chicago Margaret Beale Spencer, descobriu que crianças brancas como um todo identificam a cor da sua pele com atributos positivos ao mesmo passo em que designam atributos negativos à pele mais escura. A maioria identificou figuras mais escuras como “burras”, “cruéis” e designaram cor escura como a cor que adultos os não gostam. Que brancos dessa idade tão tenra percebam negros negativamente é realmente inquietante. Contudo, o que é mais perturbador, como o estudo da CNN ilustra, é que crianças negras também têm percepções imensamente perturbadoras a cerca de si mesmas. Apesar das respostas capturadas ao vivo e a cores serem chocantes, elas não deveriam ser surpreendentes. Antes de focar no papel que os pais têm na formação dessas atitudes negativas, a primeira parte se concentrou em torno do maior motivador do processo condicionador – a mensagem codificada na mídia de massa 24h por dia, 7 dias por semana, a 360 graus, da superioridade branca/inferioridade negra. Pense nisso: a qualquer manhã, uma criança comum, negra ou branca, será inundada de mensagens e imagens que apresentam brancos como preferíveis e negros como personagens secundários ou inferiores. Eles verão desenhos ou comédia na Nickelodeon ou Disney Channel com brancos como personagens principais e talvez negros ajudantes ou algumas rostos escuros na mistura. Se estiverem na programação adulta, eles verão comerciais, programas e jornais com a mesma razão desproporcional de brancos para negros. Indo para a escola, os olhos jovens absorverão outdoors em sua maioria com pessoas brancas mostrando produtos e serviços oferecidos por empresas de proprietários brancos. A não ser que a instituição educativa tenha feito um esforço esclarecido, ensinarão às crianças sobre as conquistas dos brancos, de livros com a maioria de figuras históricas brancas em escolas com nomes provavelmente em homenagem a homens brancos. A mídia, especialmente a televisão, contribui para as percepções negativas. Jovens negros assistem cerca de 24 horas a mais de televisão por semana do que a telespectador jovem branco comum. Vários estudos científicos indicam que, sem filtros parentais, algumas crianças negras consideram as mensagens e imagens da mídia como reflexões autênticas de quem eles são e como eles agem. Colocar a maior parte da culpa nos pais é uma visão curta. Por séculos, adultos americanos sofreram uma lavagem cerebral com um ataque de condicionamento político, social e midiático a cerca da superioridade branca/inferioridade negra. A comunicação em massa – filmes, vídeo games, clipes e a televisão em particular – tem impacto máximo na forma como as crianças aprendem regras sociais, regulamentos e valores. Os pais – supondo que estejam totalmente presentes na vida da criança – não são páreos para o bombardeio constante e onipotente da mídia. Será difícil reverter um sistema institucionalizado de valor baseado em raça, mas, esperançosamente, o estudo e a série da CNN nos levarão além do choque e temor e nos colocarão a caminho de um movimento orquestrado para resgatar a mente dos jovens. Se esperamos mudar como estudantes – brancos e negros – entendem raça e cor de pele, não temos que empregar armas modernas e uma campanha de resgate 24h por dia, 7 dias por semana, em 360 graus. Professores, animadores, programadores, educadores, pregadores, pais e consumidores devem inovar. A tela do computador, Youtube, iPad, Kindle, o currículo interativo e outras oportunidades da Nova Mídia são as armas de hoje. Com redes sociais servindo como campos de batalha, consumidores informados e progressivos podem criar estratégias, apóiam e expandir essa cruzada. É provavelmente tarde demais para adultos já condicionados para aceitar o branco como o direito universal. Contudo, a Nova Mídia nos dá uma chance de redenção, mas quando se trata da mente dos nossos filhos, a revolução do século XXI deve não apenas ser televisada, mas sim digitalizada! Eu acredito firmemente que nos dias de hoje, muito poucas pessoas se consideram "racistas". Também tenho certeza de que a maioria das pessoas sabem que nenhuma raça é biologicamente superior à outra, acreditam firmemente na igualdade e são verdadeiramente contra qualquer forma de preconceito ou discriminação racial. Contudo, somos bombardeados todos os dias com referências negativas a respeito das pessoas de cor na mídia como já discutido previamente (veja como a mídia afeta autoestima do negro). Seria ingênuo e irrealista acreditar que a mídia não influencia vastamente as percepções das pessoas sobre diferentes raças desde a infância. Não adianta negar. O resultado disso é o racismo aversivo. Racismo aversivo acontece quando um indivíduo demonstra atitudes preconceituosas contra certos grupos raciais/étnicos, mesmo acreditando na igualdade dos mesmos. O indivíduo aversivamente racista pode não estar ciente dos seus preconceitos, pois eles estão enraizados no seu subconsciente, negará o seu preconceito e se sentirá ofendido se acusado de racismo. Ou seja, é uma pessoa bem-intencionada que não sabe que é racista. Outro fenômeno perigoso altamente difundido na atualidade é o racismo internalizado. Geralmente uma sub-categoria do tipo de racismo apresentado acima, o "racismo internalizado ocorre quando pessoas que são alvos de racismo são, contra a sua vontade, coagidas e pressionadas a concordar com as distorções do racismo. Cada um de nós, alvos de racismo, lutamos desde a infância por quanto tempo e com a força que nos atrevemos ter, para manter uma sentimento de nós mesmos como pessoas boas, inteligentes, fortes, importantes e poderosas. Contudo, na nossa sociedade, atitudes racistas são tão duras, tão presentes e tão prejudiciais que cada um de nós é forçado às vezes a internalizar o racismo contra nós mesmos e parecer concordar com o condicionamento, internalizando as mensagens do racismo." (http://www.rc.org/uer/InternalizedRacism.html) Eu acredito que a maioria das pessoas é contra o racismo, mas também acredito que infelizmente a maioria, senão todos, temos preconceitos implícitos com os quais lutaremos talvez a vida toda. Basta assistir meia hora de televisão por dia e os preconceitos são reforçados subconscientemente. Tem sido assim desde a nossa infância, desde a infância dos nossos pais. É por causa da mídia reforçando estereótipos e imagens negativas que essa forma de racismo implícito está tão difundido e predominante na nossa sociedade. Um exemplo disso é o seguinte vídeo. Assista e tire suas próprias conclusões. -- Gamgee |